sábado, 27 de março de 2004

sinto saudades da epoca em que minhas roupas nao significavam nada.
e tambem da epoca em que elas significavam algo.

quarta-feira, 10 de março de 2004

passava graxa nos sapatos desenfreadamente. tinha um compromisso. compromisso consigo mesmo. sera q conseguiria? a mao meio amarga da tinta passava pela testa depois de passados 30 minutos. ele esperava por ela. quem ele nunca tinha tido direito. que sempre o decepcionava. mas hoje ele ia te la. nao sei de onde tirou essa ideia, se da necessidade ou do desconforto. talvez dos dois. mas Coragem ia acompanha lo. porque ia.
pediu para ir na frente, ja que ele iria abrir a porta. ela, muito timida, aceitou. correu para que ela nao fugisse, nao desandasse. seu estomago tinha borboletas gelidas e inquietas, e a mao (que lavara a outra dezenas de vezes aquele dia) carregava uma pasta e um folheto com o endereço. sera que iam gostar dele?
chamou um taxi para nao ter empecilhos e levou um pente para quando bem pertinho estivesse. ia observando os canteiros em obras, as placas dos carros e o espelho retrovisor... estava demorando e ele quase não queria chegar....
quase chegou. a rua era aquela, sera que vão gostar dele? mas que cor seria o muro, as janelas. que raça seria o cachorro, sera que bebiam em canecas? como seriam as cortinas, será que gostavam do Rei?
teria ele um irmao? uma irma? varias tias sete primos? bisavô ainda? com quantos vasos quebrados chatearia sua mae.
seriam calmos, revolucionarios. teria um pai cientista? que planta linda, que flores bem cuidadas.beeee. como seriam as festas de natal? quem tiraria no amigo secreto, escondiam ovos para as crianças? sera que vão gostar dele? guardavam a sobremesa para quem nao ia almoçar? faziam coleta seletiva do lixo? colocariam os pés em cima da mesinha? leriam o povo ou o diario?(Coragem teria ido embora?) sera que era advogado, politico, alguem importante? sera desleixado, maluco. contaria ele piadas sobre si mesmo? o que teria para jantar, sera que poderia tomar banho ali, como seria seu quarto reservado. sera que reservaram um quarto. quanto tempo demorariam para contar lhe como se conheceram. Sera que diriam a verdade? sera que guardaram sua certidão seu cabelo seu umbigo. sera que vão gostar dele,
Eles nao moram mais aqui. acidente de carro.

sábado, 6 de março de 2004

( olhava embacado pr-Aquele livro de Clarisse.
como se ja tivesse intimidade. ta certo que um dos contos mais gostados por ela na 4a serie era Dele, mas era uma simples fotocopia. da obra prima, um pedaco apenas.
por isso leu de detras pra frente: Aquele estava no final. na verdade, haviam lido pra ela, com uma voz doce e segura, que mudava sutilmente de timbre e ou tonalidade para cada personagem ou expressao. (e quem e que nao sonha em ouvir historias assim). pensou que ficaria emocionada com a lembranca do conto, com aquela epoca em que Clarisse nao era livro paradidatico ou um dos dez que apareceriam no vestibular - um dos mais provaveis -. nem ao menos era diferente dos outros livros bons que lia. pois bem, ela nao ficou. com isso nao. sua boca secou pela pureza do ato. como ficava sempre. claro que nao seria o mesmo se o que pusesse em sua - dele - frente e abrisse delicadamente fosse uma lista telefonica, bula de remedio ou o jornal do dia anterior, mas foi isso o que a deixou meio sem tedio. meio sem ar. )

e ai ela teve uma visao diferente.
da que teve na epoca.
acho q vale a pena.
A bela e a fera (ou a ferida grande demais)

segunda-feira, 1 de março de 2004

e aquilo a deixava entusiasmada, como quando, nas férias, veio aos seus ouvidos aquela voz feminina e quase simpática da moça que anunciava os vôos.
"Não se pode engordar um grayhound" ela pensou. Pois não havia mais jeito de voltar atrás para aquelas tardes em que o chão era gelado e os pés não tocavam os tacos de madeira mal assentados. Olhava a janela desajeitada porque sua bolsa carregava muita coisa. Coisas de que não precisava sempre, mesmo que fossem coisas úteis. Mas a alegria, que a fazia levantar as orelhas, não examinava o peso em suas costas ou em seu ombro.
Eu não disse que era uma tarde quente, disse? Pois era. E como não podia deixar de ser, ela estava de preto, que combina com o banco do ônibus, o branco-vermelho das calçadas, que agora são em pedra portuguesa, e com aquela bolsa (tão colorida) que fazia chocalhos na cabeça de quem a olhava. Era melhor assim. Olhavam a bolsa e esqueciam-na ali, de preto, no canto. Mas sempre, sempre na janela.